(Uma brevíssima nota sobre sua procedência literária)
Diz-se que Clara Brontë escreve desde quando o tempo ainda não lhe cobrava resultados — e, talvez por isso, tenha aprendido a escrever sem ceder a ele. Com os primeiros manuscritos surgidos por volta dos doze anos, seus textos não se comportam como juvenis: recusam a cronologia, a obviedade e o decoro.
Escreveu contos enquanto outros colecionavam medalhas escolares. Produziu parábolas em vez de diários. Aos quinze, entregou Contos de Gardênia, espécie de herbário imaginário, onde cada narrativa floresce sob a sombra de um símbolo. Depois, vieram os corpos maiores: Non, Merci, livro de recusa e sacrifício. Flores nas Cinzas, a dissecação do orgulho em forma de romance histórico e político. Luminária, tratado disfarçado de fábula, onde se incendeia a memória coletiva. E o mais frontal: Memorial de um Pequeno Cristo, onde abandona as máscaras metafóricas e escreve à luz do nome que a move.
Seus textos percorrem o limiar entre a visão e o delírio, entre a mística e a lógica, entre a penitência e o mito. Sua linguagem flerta com o arcaico sem se tornar museológica; é poética, mas sem floreios — rebuscada por necessidade de precisão, não por vaidade.
Não concede entrevistas. Assina sob pseudônimo fixo — “Brontë”, não por imitação, mas por genealogia literária. Publica como quem cumpre um rito, e não uma carreira.
Quanto à sua idade — 17 anos à data deste escrito —, é irrelevante diante do conteúdo que entrega: atemporal, como tudo que se escreve de joelhos, entre a chama e o silêncio.
m algum ponto entre o tempo que se esqueceu de passar e os véus que selam a memória dos vivos, existe Gardênia — terra de rios encantados, árvores oraculares e sentenças veladas no sussurro de flores esquecidas. "Contos de Gardênia" não é um livro. É um relicário de lendas — fragmentos de uma tapeçaria sagrada e profana, onde cada personagem é mais símbolo do que carne, mais destino do que escolh
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